Cidade da Praia, 07 Mai (Inforpress) – A comunidade cabo-verdiana nos EUA registou 53 óbitos no seu seio, provocados pela pandemia do novo coronavírus, a maioria vitimada na cidade de Brockton, a mais afectada de Massachusetts e com impactos directos na economia e empregabilidade.
Brockton já somou 2.532 casos confirmados da covid-19, que resultaram em 158 mortes, numa cidade cuja população cabo-verdiana, estimada em mais de 40 mil habitantes, ultrapassa um terço da sua densidade demográfica, pelo que a representatividade das mortes dos cabo-verdianos ronda os 33% de toda a cidade.
Esta informação foi revelada a Inforpress pelo cônsul-geral de Cabo Verde em Boston, Hermínio Moniz, que classificou de “bastante complexa” a realidade do ponto de vista sociológico de Brockton, já que dispõe da população mais envelhecida em todo o estado de Massachusetts, que, num espaço de 40 anos, passou apenas dos 95.172 mil para 96.313 habitantes.
Hermínio Moniz explicitou que a idade média da sua população ronda os 35 anos, sendo que 20% está a volta dos 45/64 anos e que 11% tem idade acima dos 65, o que faz com que numa situação de pandemia a sua população fica mais vulnerável à contaminação, face a sua elevada densidade populacional.
Com uma superfície de apenas 55 quilómetros quadrado, inferior a da ilha da Brava, os cerca de 100 mil habitantes fazem com que Brockton tenha o agregado familiar mais alto de Massachusetts, à volta de 3,7 habitantes, mas que pelo facto das famílias viverem agrupados em casas com três pisos têm um “factor exponencial”.
Classificou a situação de bastante preocupante para todo os EUA, e relativamente a comunidade cabo-verdiana ali residente, mas mostrou-se encorajado com a tendência de desaceleração em Massachusetts do nível da velocidade da contaminação e uma “redução considerável” da taxa de hospitalização.
Hermínio Moniz baseou a sua tese em como existe cada vez menos pessoas a testar positivo, mesmo tendo aumentado o número de testes, quando já estava prevista a inauguração da fase de estabilização na primeira semana de Maio, para se seguir a curva descendente, neste que já é considerado o melhor momento deste o início da pandemia no estado de Massachusetts.
Ainda assim, alertou a todos para “não baixarem à guarda”, sem antes esclarecer que a comunidade cabo-verdiana, por ser a maior, está sempre na linha da frente, “tanto nos factos positivos, como negativos”, exemplificando que no último Verão mais de 600 alunos cabo-verdianos graduaram-se no ‘High School’, num universo de 800 estudantes em toda a cidade de Brockton.
A pandemia, declarou, está a ter “grandes reflexos” na economia da emigração cabo-verdiana, numa cidade com 43 empresas, consideradas pequenas no conceito norte-americana.
É que, ali, um estabelecimento com menos de 500 funcionário e com um rendimento bruto anual inferior a 100 milhões de dólares é classificada de pequena, quando o rendimento bruto anual da população crioula em Brockton está avaliado em 340 milhões de dólares.
Mas, Moniz afiançou que apesar de ser uma comunidade “relativamente bem integrada e organizada”, ninguém estava preparado dar combate ao covid-19.
Esta doença tem provocada “uma situação difícil” na comunidade, com despedimentos e quebra de rendimentos o que leva o consulado geral a reforçar o apelo no sentido de incentivar a população a participar “de forma activa”, online, nos sensos, já que apenas estão cadastrados cerca de 19 mil cabo-verdianos, uma vez que os crioulos temiam recensear-se.
Hermínio Moniz explicou que os dados do censo não são utilizados para efeitos de políticas migratórias nos EUA, alegando que nesse país a separação dos poderes e a protecção dos dados “são claros”, pelo que considera que este receio do passado tem prejudicado a “tradução assertiva” da dimensão da população cabo-verdiana.
O cônsul-geral de Cabo Verde em Boston aproveitou para apresentar os seus pêsames a todos quantos perderam os seus familiares devido à pandemia do novo coronavírus e lembrou a comunidade que estes dados “fragilizam e penalizam” a comunidade crioula, porque nos EUA trabalham-se “à base do censo”.
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Inforpress/Fim