Covid-19/Porto Novo: Pandemia inviabiliza as festas de São João comemoradas há, pelo menos, 121 anos

***Por Jaime Medina, Inforpress***

Porto Novo, 02 Mai (Inforpress) – O novo coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19, obrigou à suspensão, pela primeira vez, em mais de um século de existência, das festas de São João no município do Porto Novo, em Santo Antão.

A pandemia, detectada em Cabo Verde em finais de Março e que já infectou mais de uma centena de pessoas (123 casos confirmados até ao dia 01 de Maio) nas ilhas de Santiago, Boa Via e São Vicente, vai privar, assim, os portonovenses de uma das festas mais aguardadas todos os anos e que traz a Porto Novo “milhares” de festeiros.

Trata-se da festa do santo padroeiro, o São João Baptista, que terá começado a ser assinalado no Porto Novo no século 19, ainda antes da criação paróquia de São João Baptista, no ano de 1898, e da construção da primeira capela, que só aconteceu em 1905.

Na ribeira da igreja, na cidade do Porto Novo, onde se celebra, todos os anos, a missa solene em honra ao santo padroeiro, sitio considerado a “raiz” deste concelho, foi construída, há 115 anos, a primeira capela deste concelho, coberta de palha, para, precisamente, abrigar a imagem de São João, que, segundo reza a lenda, “vivia” numa gruta à guarda de uma anciã por nome de Mê Maia (Mãe Maia).

A imagem de São João terá chegado a Cabo Verde em 1616 (século 17).

As festas de São João passavam, assim, a ser celebradas no Porto Novo com a criação da paróquia local, nos finais do século 19, com sede em Ribeira das Patas, interior do concelho, onde, há mais de 50 anos, foi construída uma outra capela dedicada a São João, que é conhecida como a “casa” da imagem do santo.

Pois, é nessa capela que a imagem de São João fica durante um ano. Só deixa essa igreja para ser transportada, no dia 23 de Junho, à cidade do Porto Novo, aos ombros das pessoas e ao som de tambores, durante a peregrinação dos fieis, regressando dois dias depois a Ribeira das Patas, seguindo o mesmo ritual.

Porém, reza a história de que, em 1898, Porto Novo já tinha cinco mil romeiros e 300 tamboreiros, que asseguravam as festas de São João, classificadas, em 2017, património imaterial nacional.

O frei Ademário Delgado, natural do Porto Novo, que tem feito pesquisas sobre a origem das festas de São João neste concelho, acredita que a chegada da imagem de São João a Cabo Verde terá acontecido no século 17, muito antes da criação da paróquia, que foi sediada em Ribeira das Patas.

Em 1962, através do diploma legislativo ministerial, publicado no boletim oficial de Cabo Verde número 35, de 02 de Setembro, assinado pelo então ministro do ultramar, era elevado o posto administrativo do Porto Novo (fazia parte do município do Paul) à condição de concelho, passando a sede da paróquia para a então vila do mesmo nome.

Actualmente, a preocupação das autoridades prende-se com a salvaguarda das festas de São João, classificadas a património imaterial nacional há três anos.

Além da conclusão do futuro museu das romarias, que funcionará nas antigas instalações da fábrica de pozolanas, na cidade do Porto Novo, o plano de salvaguarda das festas de São João inclui ainda outros projectos, como a criação da rota de São João, inaugurada em Junho de 2019, e do centro interpretativo, que funciona na antiga capela de São João, há vários anos.

As verbas resultantes do cancelamento das festas de São João 2020 e de todas as festas de romaria no município do Porto Novo ao longo deste ano vão ser canalizadas para as famílias mais vulneráveis, que viram as suas vidas afectadas pela pandemia de covid-19.

Além das festas de romaria, a câmara do Porto Novo cancelou, também, o festival musical da praia de Curraletes 2020 e outros espectáculos culturais que, geralmente, aglomeram “um número considerável de pessoas”, optando por canalizar as verbas aos mais afectados, neste município.

JM/ZS

Inforpress/Fim

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